República do Pensamento: maio 2013

FILA

fiel essa fila
esse filar
ataca quem quer

o bem o mal
o salve-se quem puder

não sou, mas estou lá
na espera
de quem erra, eras e eras

não vou, mas terei de ficar
na espera
de quem birra, espirra sem mira

fiel essa fuleiragem
essa imagem
autoprojetada de nada mais a dizer

a porrada moral
o ferre-se, entre dentes

não cria, mas terei de
ficar na escuta
de quem lhe cutuca, sem cerimônia

não esperava, mas terei de agir
se um dia quiser conseguir
andar nesse caminho de vida

dividido com ninguém mais.
*Luiz Cláudio Pimentel


AMBULANTE


experiência vale de quê?
diálogo, convivência?

se sempre somos vistos como imaturos
inseguros, inconsistentes

moles enquanto duros
pobres de riqueza vã

inteligência vale de quê?
dívidas, inconsequências?

se sempre somos vistos como juniors
indubitavelmente, geralmente

prefiro ser adolescente
que idiota
prefiro ser insistente
que pura chacota

do que não ser
do que não ser
esse gênero ambulante.
* Luiz Cláudio Pimentel


DIGESTÃO CAVALAR


extraio a raiz quadrada da minha insônia
elevo a enésima potência do meu sonho
descubro com quantos sonos se faz um travesseiro

somo os dias acordados querendo dormir
subtraio as noites dormidas precisando acordar
multiplico o produto da nossa digestão cavalar
divido o copo d'água com o bêbado do bar

e ele me manda praquele lugar
onde o raio faz mais trovoada

da bela dama ficou a fama do seu rebolado
fora do compasso dei voltas e voltas na lua
de que vale o seno sem a tomada de cena
de que vale o cosseno sem estar com você

tangenciando os problemas
as soluções escapam em progressão geométrica
no gráfico do tédio nem o santo ajuda
beijos de língua formam perímetros amorosos irregulares

o meu lado mais o seu lado dá um disco de vinil
o buraco no meio não é feio
pois dançar conforme a música
faz balançar até a lei do silêncio

* Marcos Fabrício


O amor faz bagunça no quarto arrumado da solidão.

- Marcos Fabrício -


PRETO POMBA
 
sou preto pomba
que desarma branco bomba.
falo a verdade do porão
contra a mentira do timão.
abro o mar com meu negro drama.
meu corpo é fechado para a fama e a lama.
não tem senhor que mande no meu destino.
sou pérola negra dono do meu próprio brilho.
driblo chicote com a minha ginga.
capitão bobo leva rasteira.
na capoeira, come poeira.
quilombo rei zumbi me defenda.
faço gol de letras palmares,
com arte, suor e grandeza.
escrevo a nossa vivência
evitada por autoria defunta.
na caixinha de fósforo astuta,
acende o samba dos meus bambas.
bezerro folgado,
desmama.
ovelha negra
diz
mama
áfrica.
liberdade vem de ti
- não da princesa -,
mais vale o canto ancestral
que o grito da nobreza.


- Marcos Fabrício -



CONTEÚDO LITERAL


conteúdo literal
luta contigo
leve, constrói
completa, lírico

lento e calmo
louco e casto
isolado astro, invisível amigo

leva cadências
inexperiências, ingenuidades
ainda nessa idade, amigo?
taí o perigo de te escapar felicidade

luta, comportado
lidera, cativados
liberta carinhosamente

se tudo é uma questão de mente
verdade seja dita
e que não se repita, ignoradamente.
*Luiz Cláudio Pimentel


CAÇA

sucede acontecer
procede
tem razão de ser

complicar o irrisório
dificultar o simplório

sobra do que não se caça
efeitos da cachaça que não se tomou
revirou a cabeça

tem quem queira
quem se esqueça
quem se apavore
quem mais lhe ignore
quem se devore
que implore ou caia em lamentos

que mire o alvo por alguns momentos
que sua vida redecore
que, na dor, não mais se escore
que a atire ao sabor dos ventos....
*Luiz Cláudio Pimentel


e-lamento

mas não posso mais dar voltas nesse mundo
não sou Super-Homem, seu nem delas
velas, acenda se quiser
mas estou vivo, a observar teus erros
e tentando aprender com os meus

lamento, mas não posso mais lamentar
não sou Madalena, minha ou dos fariseus que me julgam
entulham seu tempo, perdendo o meu a belprazer
mas estou de olho, a observar minhas lacunas
e tentando detectar as suas

nessas nossas esquinas nuas
o que há já cumpriu sua função
nas tuas pequeninas
o que fazes é mais nada de necessário

sou otário?
não,
talvez resistente.
* Luiz Cláudio Pimentel


REPRESÁLIA


vou andar na linha
vem a que era minha
a que amores, não me tinha
a que, de dores, desalinha

todas, em uníssono
me enfrentar, me afrontar

mas não engrenam
só encenam

pura represália

vou pousar na linha
vem a que não era minha
a que cores, se descrevia
a que dores, não mais havia

todas, em coral perverso
detonar meu universo
me perigar

mas não encenam

só desengrenam
pura represália
* Luiz Cláudio Pimentel


ABSINTO DIZER

Vodka atômica
Patada sônica
Green Card pro Céu de Oz

uma nova voz, dentro de mim
Assim, absinto dizer.

* Luiz Cláudio Pimentel


a vida é

Oração
assimétrica
enviesada
reduzida de significados


Tentação
milimétrica
escarrada
refletida com ambos os lados


Opção
elétrica
esfolada
retorcida de dilemas
* Luiz Cláudio Pimentel