República do Pensamento: março 2012

Amigo, vou te contar uma coisa:
Toda vez que me lembro do anjo,
Toda vez que vejo aquele rosto,
Toda vez que me perco naquele olhar oblíquo,
Uma felicidade característica me toma a alma
Sinto-me mais confiante, afável, intrépido, paciente,criativo, inteligente, humano
Não há um momento em que esse ser me toma e não me alegre!
Só consigo explicar com verso, músicas e jograis!
Queira Deus que eu possa transformar isso em palavra falada!
Sabes, como aquelas letras que vêm de onde não se pode alcançar,
No infinito paralelo à jocosa eternidade daqueles que amam?

* Alexandre Henrique


TREM


Me vendo na estação
Me chame pro trem
Me chame me chame
Pro trem da paixão
Contigo eu vou
Com destino a Belém
Partindo de Xerém
Vou por esse mundão
Tu és a trilha mais bela
por onde trafega
esse sujeito vagão
O céu do teu lado
Fica mais bonitinho
Fica mais azulinho
Mais pertinho do chão


* Marcos Fabrício


A química sem a física não é biologia.

* Marcos Fabrício


O sol nasce pra todos que nascem com a bunda pra lua




* Marcos Fabrício


EU NÃO GOSTO


Eu não gosto

de gostar de tudo.

Eu gosto

de não gostar de tudo.

Não gostar é um gosto que se discute

Desgosto é ter que gostar de tudo.





* Marcos Fabrício

(ouvindo Valesca Scarlat e Adriana Calcanhoto)


A SAGA DE DOIS

o meu romance com ela
parece rádio-novela
cada rolo um conto
cada enredo uma peça
a saga de dois
tem tragédia e comédia
o feijão com arroz
é o mais caro da festa

* Marcos Fabrício




* Poesia: Marcos Fabrício/ Arte: Marco Llobus




* Poesia: Marcos Fabrício/ Arte: Marco Llobus




* Poesia: Marcos Fabrício/ Arte: Marco Llobus




* Poesia: Marcos Fabrício/ Arte: Marco Llobus


INVARIÁVEL

sujeito, constatarei
contudo, negarei
fugirei, digo
serei invariável
omisso, indelével

acima de tudo, fingirei
sobretudo, rodearei
evitarei, afirmo
sujeito indestrutível
oculto, indeterminado

* Luiz Cláudio Pimentel


IhOh  IhOh

a gente se preserva
e se prostra
diz que tá bem
mas tá uma bosta
pura aparência

a gente se observa
e se gosta
diz que não vem
mas se encosta
desobediência...


* Luiz Cláudio Pimentel





* Marcos Fabrício


QUEBRANTO

Depois do que já ouvi,
Depois do que senti,
Depois do que experimentei,
Nenhuma canção nova me diverte
Eu quero aquele canto de volta!
A voz doce, delicada e pura
Me preenche e esvazia minha mente da incerteza.
Não é uma voz comum, pois de tão diferente me cala
E cala minha alma.
Espanta meus medos, menos um!
Aquele que me impede de clamar uma só nota
Que abre os caminhos, desfaz os quebrantos
E ilumina a vida!

* Alexandre Henrique


RELATIVO SÉCULAR

Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu vi.
A mente foi no tempo em que o número era uma pedra
e cujo contexto era um pássaro.
Vejo aquele olhar persistindo na memória
Completamente real em sua existência!
Era divino, discreto, lascivo e inquietante.
Quase um monumento invisível
que só o mais sábio dos homens poderia enxergar.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu senti.
Era um sabor diferente, um licor de Filigrana
que escorria de sua boca.
Tinha um gosto viciante que só a saudade
é capaz de traduzir o efeito desse elixir.
Com toda cautela verificava a dança daqueles lábios
misturada ao perfume do líquido e com infinita certeza
sorvia a combinação perfeita para minha rendição.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que só eu provei.
Era como se estivesse maculando um anjo.
Olhá-la já me parecia profano, tocá-la então soava pecaminoso.
Ledo engano, pois era tudo suave, harmônico e com tanta paz
que somente aquele ser poderia me proporcionar tamanho torpor.
A sua silhueta ao surgir pôr sol só me fazia admirá-la mais,
desejá-la mais, “angelicalizá-la” mais...
Uma gloria que só os vidros dos meus olhos podem entender, pois, além de mim,
são as únicas testemunhas.


Um século se passou nesse último mês
e ninguém sabe o que eu continuarei vivendo;
um século a cada quinze dias.

* Alexandre Henrique


MEDO

Chego em casa cedo.
Abro a janela para sorver uma lanhada de ar da madrugada.
Não consigo dormir, pois só uma imagem me vem.
Procuro em outros olhares, bocas e cheiros o que me convém,
mas não consigo.
É tudo tão irreal, forjado sobre cinzas de um pássaro alado que não existe.
Não consigo encontrá-la e isso não me conduz à claridade.
Eu entendo que aquilo que me pertence não se chama negação,
somente a afirmação da minha inércia neste preâmbulo.
Não é bom termos tantos parâmetros, pois o óbvio pode ser instigante.
Gosto das vias diretas e não me importo com o fugaz.
Tenho medo de perdê-la, contudo não sei como tocá-la.
Será que hoje, amanhã ou depois falo o quanto eu a amo?
O que me divide é o medo, a incerteza e a impertinência
de tomar um espaço que foi tirado de mim e com o meu consentimento.
Só orgulho é pouco e muito é o medo?
O meu desejo para no limite do outro, mas se não falar minha mente fica turva.
Se não me declarar posso me arrepender,
Mas se pronunciar um verso tenho que escutar firme a réplica.
A certeza que me cabe só foi medida pelo tempo que processo as informações.
Uma hora normal é um ano nos meus alfarrábios.
Mas isso, meus amigos, não é fruto meu não!
Isso foi plantado e cultivado da pior maneira possível.
Aquela que poderia ter me regado com aroma de lírios
fez a devassidão em pequenos instantes.
Então, como confiar no coração do outro?
Enquanto o seu se abre, o do outro se confunde e te faz cair em penumbra,
a ausência mais torpe de luz.

* Alexandre Henrique


Criticar é ser agudo sem ser pontiagudo


* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício




* Marcos Fabrício





Para: Chico Anysio

De: Marcos Fabrício










Último Lance
Para Marília, Paulinho da Viola, Vinícius de Morais e Danislau Também


I
Ainda nesse processo de esquecer
Grande otário que sou

No fogo de caminhos cegos
O temor da vingança

Do rancor 
Da ingratidão 

II
Transformada em mulher
De outros homens

Noites acordadas
Em busca de um novo amor

Sua imagem virgem
Segura na eternidade

III
A sentença proferida
Vira música

"Feliz ano novo
Me desculpe estou com outro"

Serena meus olhos
Na madrugada 

IV
No dia acordado
Prática diária

Pecados todos pagos
Em dinheiro

Desrespeito
Feliz com minhas ilusões.




* gustavo footloose


Saudades tuas

mistura de medo
com uma pitada de arrependimento

de não poder mais te fazer feliz
de querer caminhar sozinho

com uma porção de seu consolo.




* gustavo footloose


Ao final deste sonho

minhalma desiludida
caminha para a vida

um passo 
depois outro
 
a caminho de mim
com medo do que vou encontrar

nas palavras sábias que finjo proferir
o labor de meus versos

na consolação desse sentimento
não vejo mais sonhos de amor

só palavras tristes
e canções desesperadoras

de abandono
de sofrimento 

de flores
e espinhos




* gustavo footloose


TOC

toc, TOC
tarde, oco, cru
tosse, osso, céu nu



tanto olho e creio
tanto ouço e custo
receio


tentei, ontem cedo
tentarei, outro cartaz
e serei capaz?
* Luiz Cláudio Pimentel


Quando um amor acaba
tudo parece dia
o dia parece exato

Consigo ser lógico
e ver com os olhos da ciência
que não há mais serotonina

Não há mais nossos filhos
que de tão sonhados
viraram sonhos

O futuro esperado
é este presente dilacerado

O choro não é de alegria
e o caminhar só
me deixa exausto

Quero fumar todos os cigarros
beber toda a bebida
e rezar feito um desesperado

Meu grito não ecoa
Em silêncio me deito só.




* gustavo footloose


Ao passo que tudo se encerra
recomeço o dia calmo 

serenidade de leão
fome de borboleta

em tudo há luta
porque nada é graça

o preço do seu sorriso
paga em dobro minha felicidade.




* gustavo footloose


AQUELETRAÇO
inspirado em "Aquele Abraço" de Gilberto Gil

Meu caminho pelo mundo eu mesmo faço
a vida já me deu prego e sopapo
Quem sabe de mim sou eu, aqueletraço!
Prá você que me esqueceu
aqueletraço!
prá você que me perdeu
aqueletraço!

Meu caminho pelo mundo eu mesmo amasso
a vida já me leu verso e contrato
Quem sabe de mim sou eu, aqueletraço!
Prá você que me rendeu
aqueletraço!
prá você que me escreveu
aqueletraço!


* Luiz Cláudio Pimentel




* Poesia: Marcos Fabrício/ Arte: Marco Llobus




TOQUE

o real do teu toque
alucinação sutil
um passo belo ao paraíso
todos
caminhos
convergidos
ungidos e sacramentados
um verdadeiro amor
na solidão da capital
no interior
do peito


* gustavo footloose


AMBIÇÃO

DESEJOPULSÃO
rosacarvãorealejo
coração
ALMEJOATENÇÃO
prosatesãoprevejo
ilusão

* Luiz Cláudio Pimentel


- Tome essa cerveja, por favor, pois dela não dou conta mais!
- Vou atender ao seu pedido espumante.
- Não sabe a gentileza que me faz, pois aquela que me afoga tem o afago em outro lugar.
- Não engarrafe seus sentimentos. Ame mesmo sem haver copo. A bebida vem do barril, curtida e fermentada. Deste lado, a sua sede é tudo: maior que água, menor que chuva.
- Sensível ao fogo, passível à culpa e alegre em gozo, meu amigo!
- A solidão é o porre de um amor que embriaga e de um sexo que causa ressaca. Ainda assim, vale à pena enfiar o pé na jaca.
- Atolemo-nos, então; embriaguemo-nos, enfim; regozijei-nos em vida...
- Tô contigo e não abro. A conta fica com a união!

* Alexandre Henrique e Marcos Fabrício


A Grécia está enfrentando uma barra funda.
Sócrates de pires na mão, e Platão com ressaca profunda!
Euclides não para de medir aquilo que não é humano,
Ptolomeu ainda dá volta na terra,
e Prometeu ainda se pergunta por que está preso à pedra!
O Mercado Comum Europeu
precisa aprender lições de economia com a feira de Acarí.
Aristóteles, não dá para ficar nem aí!
E da coroa se fez “Eureka”, não foi Arquimedes?
Para quê, se a descoberta é um pormenor!?
Que meleca! - disse Diógenes, direto do barril.
- Que o mundo cretino vá tomar no olho do fuzil. Haja estomazil!

* Alexandre Henrique e Marcos Fabrício


Copo vazio me enche de nada.
Mas o nada já é algo definido de quê?
Conceitos, assentos preferenciais para idéias descadeiradas.
Urgências imediatas que findam na consciência do irregular
que procura pacientemente um meio, um centro.
Periférico traz como desafio desmistificar ângulos obtusos.
Perpendiculares taradas sabem que o convexo é o nexo entre as conexões.
Mas com conexões, há continuidade que pode findar no infinito subliminar.
Pergunte à hipotenusa qual é o segredo de seus catetos?
Triangulações feitas em mesa não precisam de visto para viajar.
Só de esquadro, régua, compasso e seus elementos essenciais
que a boa geometria pede uma métrica Euclidiana.
Só acho tétrico reduzir os caminhos da dedução
para encurtar a chegada da fórmula,
uma vez que a forma, de tão sublime, é divina e carece de cuidado!
O número Pi com pinga pode ser uma boa dica de bebida,
calculada em contas de 10%,
para que seu complemento alterne entre os meios
e façam com que os fins sejam regulares.
Então, equacione o seu problema sem precisar de Bhaskara!

*Alexandre Henrique e Marcos Fabrício


Cheguei primeiro
e estou esperando.
Assim, tenho tempo para pensar,
refletir, flanar e me transportar
para um mundo instável e assimétrico
chamado Idéia.
É impossível não notar o quanto está calmo
e eu me perco no torpor daquele mundo.
Não estranho, não sinto, não me assusto...
Só penso, penso...
Até que um estalo me desperta.
É o barulho da minha consciência que não para de calcular, medir, planejar,
lembrar, esquecer, xingar e escapar do mundo.
E num instante querer voltar para Idéia.

* Alexandre Henrique




* Poesia: Marcos Fabrício / Arte: Marco Llobus

Pintura: O Grito - Edvard Munch




* Poesia: Marcos Fabrício / Arte: Marco Llobus



* Poesia: Marcos Fabrício / Arte: Marco Llobus



* Poesia: Marcos Fabrício / Arte: Marco Llobus



* Poesia: Marcos Fabrício / Arte: Marco Llobus


Acordei alface.
Fui azeitado pela sua fome e salgado por sua gula.
Entrei no vinagre.
Achei que você era light. Fui papado sem dó nem piedade.
Em pensar que eu era só o prato de entrada
para a sua carne vermelha.

* Marcos Fabrício



SANGRO

sangro a vontade de fazer uma pessoa feliz
sangro pelo nariz, o ar pesado que me lançam

sangro a secura d´alma que se irreleva, cambaleante
sangro pela voz, ora imponente, ora insignificante

sangro a decisão de escolher o caminho que acho correto
sangro reto, pelos cruzados recebidos

sangro o marido, ou o namorado, que lhes concedi

mas recupero o ímpeto
o fôlego retomado
o pulsar renovado

pronto para dar a outra face,

que sangre.
* Luiz Cláudio Pimentel


Seja teu amor
o gesto infinito
nunca o último grito

Seja o teu amor
até um pouco de solidão
nunca a última solução

Seja teu amor
revolução


* Gustavo Footloose


PROBLEMAS(e reais)

tenho problemas(e reais)
tão verdadeiros quanto uma nota de 3
tão serenos quanto a crise de todos vocês

tenho problemas(e reais)
os demais parecem não ter, padecem devagar
e vivem a vida com mais
mesmo sendo, ao menos, um pouco irreais

tenho problemas, e não posso assim escondê-los
já que, ao vê-los, tornam-se mudos
agudos, não existem mais.

tenho reais, e não posso retê-los
já que, ao tê-los, tornam-se escorregadios,
bravios, não se contém mais
* Luiz Cláudio Pimentel


IMPULSO

da semente, nasçam flores
da tela, brotem cores

do sonho, que cative os amores

da mente, venham visões
da bela, pulsem paixões

do fanho, que cante por amares

do pente, surjam tendências
dela venham experiências

tamanho? sejam milhares
* Luiz Cláudio Pimentel


(STERIL)FONICA

a voz me falta
o calor me gasta
me sublima
da carne ao sândalo

sinto-me vândalo de sentimentos
entrego migalhas a outros
vindos das fontes infindas em que busco

a cor me salta aos olhos
o que tanto desejo me escapa
me estaca, ao canto
me deixa afônico

entretanto, que coisa bela de romancear em versos!

a dor me sobra, mas é tangente
quisera fosse pungente, mas existisse o amor admirável
algo louco e sustentável
algo pouco mas válido
algo maior e louvável

o silêncio no olhar do rei e da dama.

* Luiz Cláudio Pimentel


MONO

indefinição, fez o seu caminho
indecisão, quis deixar sozinho
sem opção
alguém

interrogação, quis o seu ato
preposição, fez seu contrato
com a solidão
ninguém
* Luiz Cláudio Pimentel


Não faça de sua vida
uma simples mala
de viagem pro futuro


* Marcos Fabrício


SOBRE QUI-SUCO

um disse:
- qui-bom!
outro disse:
- qui-merda!

qui-suco:
sabor divergência.

* Marcos Fabrício



Pensei eu ser uma artista
Mentira! Egoísta
Tua arte é para dentro
Pensamento
Não tem conexão com o 
Coração
Sentimento
Não tem conexão com o 
Corpo, mão
Expressão

Pensei eu ser um inventor
Mentira! Inventor inventa
Tenta, enfrenta, experimenta
Usa a ferramenta
Criação

Talvez com palavras eu saiba lidar
Então escritor, poeta,
Sei lá
Mentira para ser um poeta
tem que recitar, publicar, o outro escutar
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Partilha, partir da ilha


* Francisco Jardim